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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Conta outra!


Em iniciativa conjunta do Conselho Nacional do Ministério Público e da Estratégia Nacional de Segurança Pública, foi lançada nessa quinta-feira (08), com apoio do Ministério da Justiça e do Conselho Nacional de Justiça, a campanha “Conte até 10”, com a participação de atletas de MMA e outros esportistas, voltada a reduzir os chamados homicídios “por impulso”. Para justificar a campanha, foram invocadas estatísticas sobre as causas de homicídio no país, fruto de uma pesquisa em onze estados, entre 2011 e 2012. Por esses números, a maior parte dos homicídios esclarecidos no Brasil seria fruto de impulso, ou, como comumente se os conhece, crimes passionais.

Até aí, nada a contestar, pois não se pode deixar de reconhecer a valia de qualquer iniciativa para a redução de homicídios, por menor que seja seu alcance. O problema está na forma com que se apresentam os números sobre crimes de morte no Brasil, sobretudo quanto à sua causa.

Para qualquer leigo que tome conhecimento da campanha, ficará a impressão de que vivemos em um país no qual todo cidadão é um assassino em potencial, que mata ao menor dissabor e, mais do que isso, mata muito. Afinal, são cinquenta mil homicídios por ano e, segundo a campanha, sua maior parte é cometida por impulso.

Acontece que essa ideia, transmitida sem cerimônia na tal campanha, é uma mentira; uma enorme mentira. Basta uma análise um pouco mais atenta dos aludidos “dados estatísticos” para se entender como estão sendo utilizados de forma capciosa, verdadeiramente fraudulenta, em mais uma reprovável tentativa de iludir o cidadão brasileiro, jogando em seu colo a responsabilidade pelo astronômico número de homicídios anuais neste país.

Em verdade, toda a “estatística” que fundamenta a campanha se restringe – e isso não se nega -  aos casos de homicídio esclarecidos, isto é, aqueles em que se descobriu seus autores e, claro, a motivação. Só que, aí a fraude na informação, estes não não chegam a 10% (dez por cento) do total de homicídios registrados anualmente no Brasil!

O que a campanha “não conta” é que temos hoje uma média nacional de resolução de homicídios de apenas 8%, e é neste reduzidíssimo universo estatístico que todos os números que a tentam justificar foram colhidos. Portanto, se a campanha vende a ideia de que, por exemplo, 60% dos homicídios esclarecidos foram cometidos por impulso, isso se resume a 60% de 8%, ou apenas 4,8% do total de crimes de morte praticados por ano em nosso país. Em números, apenas 2,4 mil dos 50 mil homicídios anuais.

Contar a até dez não tem absolutamente nenhuma interferência nos outros 92% dos homicídios, nos quais impera, exatamente, a absoluta inexistência de qualquer relação interpessoal entre autor e vítima, daí decorrendo a dificuldade em que sejam solucionados. São os crimes cometidos por criminosos habituais, os homicídios simples e, hoje, os assustadoramente crescentes casos de latrocínio.

É preciso ter em foco que homicídios por impulso, em que há uma relação interpessoal qualquer entre vítima e autor, são facilmente elucidados, pois neles o homicida não é um criminoso habitual, que conduz sua vida em fuga das autoridades. O homicida passional tem uma vida da qual não pode simplesmente se desligar, tornando-se, aos olhos da lei, um eterno fugitivo – coisa típica dos criminosos contumazes.

Desse modo, todos os “dados” considerados pela nova campanha de pacificação social excluem, já de início, mais de 90% dos homicídios anuais brasileiros, fato que, em verdade, já estabelece o primeiro filtro estatístico para o total destes crimes. Uma vez que crimes passionais são facilmente elucidados e, no Brasil, não há nem 10% de solução de homicídios, simples a conclusão de que, em mais de 90% de tais crimes, resta excluída a possibilidade de que decorram de relações interpessoais, ou o agora em moda “impulso”.

O fato é que mais de 9 em cada 10 homicídios não têm outro impulso senão a atividade criminosa habitual, decorrendo da ação de bandidos de carreira, para quem não se vê campanha alguma voltada a impedir que continuem agindo impunemente e, eles sim, contando infindáveis vítimas.

Se alguém disser que contar até dez pode ter um impacto significativo na redução de homicídios estará sendo, no mínimo, leviano. Melhor contar outra.

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Por Fabricio Rebelo | bacharel em direito, pesquisador em segurança pública, diretor da ONG Movimento Viva Brasil e colaborador do blog @DefesaArmada.

>> Texto de livre reprodução, desde que na íntegra e preservando-se a indicação autoral

8 comentários:

  1. Vejam que contrassenso...usam o dinheiro publico (nosso dinheiro, meu e seu, pago em impostos) para promover uma campanha com objetivo de manipular o próprio contribuinte. Ou seja, nós pagamos para ser enganados...

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  2. O objetivo velado dessa campanha é justificar outra, a de desarmamento. Logo logo virão com o discurso de que mesmo por impulso, se a pessoa não possuir uma arma de fogo diminuirá as chances dela atentar contra a vida de outrem. Falso, claro.

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  3. Nelson de Azevedo Neto10 de novembro de 2012 às 14:11

    "CONTE ATÉ 10"

    Se estiver discutindo com sua esposa após chegar estressado do trabalho, “conte até 10” antes de dizer-lhe algo que à magoe profundamente...

    Se estiver repreendendo seu filho adolescente por uma falta inconsequente, de menor poder ofensivo e típica da idade, “conte até 10” antes de pensar em agredi-lo fisicamente...

    Se o seu vizinho não tem “desconfiômetro” e insiste em tirar-lhe o sossego com algazarras cotidianas, “conte até 10” antes de decidir partir para agressão física (mesmo que ele apanhe de você)... Pois, revoltado por ter sido humilhado ele poderá voltar depois com uma arma para se vingar... Exercite a tolerância extra que existe em você e dê preferência as vias legais enquanto for possível...

    Se você leva uma fechada no trânsito, “conte até 10” antes perseguir o(a) “ruim de roda” para ofendê-lo(a) ou agredi-lo(a). Apenas tente manter o bom humor e, se houver oportunidade, lembre ao distraído (ou irresponsável!) de que os diversos espelhinhos distribuídos pelo veículo não servem apenas para espremer espinha ou retocar maquiagem...

    Maaaasssss, se você vê à si ou à um inocente próximo diante de um facínora armado pronto para atacar... Lembre-se de que em 10 segundos você (ou seu próximo) já poderá estar morto... E, por enquanto, o meio mais eficaz e garantido de evitar isto, é estar bem preparado para reagir... se possível... com o auxílio de uma arma-de-fogo... Então, busque uma “linha de fogo” segura (para si e para terceiros) e dispare precisamente a sua arma contra a ameaça quantas vezes forem possíveis e/ou necessárias até certificar-se que a ameaça esteja plenamente fora de combate...

    E, depois... passado o pior... ao voltar pra casa e abraçar seus entes queridos... se a ficha cair e algo no fato ocorrido ainda lhe incomodar mesmo sabendo que fez a coisa certa... vá para um banho quente e chore debaixo do chuveiro como forma de terapia, e para recuperar as forças necessárias para enfrentar a dura realidade da vida...

    E ai?... Melhorou?!?... Ou será que dramatizei demais?!?...

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  4. Para o cidadão de bem comprar uma arma, precisa, alem de outras coisas, um psicólogo credenciado na Policia federal; mas para mandar "contar até 10" e chamar de assassino descontrolado todo cidadão Brasileiro, basta ser Ministro da Justiça.

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  5. O seu conteúdo está sendo publicado por mim em meu blog
    vamos juntar as forças!! chega de ficar a merce de bandidos armados e implorar pela vida.

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  6. Nelson de Azevedo Neto29 de novembro de 2012 às 00:01

    > Equipes esportivas de Airsoft organizam torneio em quartel do Exército:
    http://www.forte.jor.br/2012/11/27/airsoft-no-2o-bil-25112012/

    Na nossa evoluída (pseudo)democracia, segundo o entendimento das nossas “autoridades” governamentais, brinquedos ou simulacros de armas-de-fogo nas mãos de crianças ou de “cidadãos comuns”, estimulam a violência e oferecem risco ao “estado democrático de direito”… É claro!… Pois, na perspectiva da visão deformada de nossos (des)governantes, NÓS – POVO – somos larápios e homicídas em potencial… Algo plenamente compreensível ao meu modo de ver, pois todo deformado de caráter tende prejulgar seu próximo baseado em seus próprios critérios de valores… Mas, parece que os militares das nossas Forças Armadas (no caso, o EB), parecem discordar e insistem em contrariar os nossos governantes (pseudo)democratas pró-desarmamento pela paz… Ô TURMA INCONVENIENTE ESTES MILITARES INSUBORDINADOS QUE INSISTEM EM TRATAR MEROS CIVIS COMO GENTE CIVILIZADA… PERMITEM QUE CIVIS E ATÉ CRIANÇAS SIMULEM TÁTICAS DE COMBATE EM SUAS PRÓPRIAS DEPENDÊNCIAS… VAI QUE ESSE POVO RESOLVE TROCAR OS SIMULACROS POR ARMAS DE VERDADE E TOMAR OS QUARTÉIS… ORA, ISSO SERIA ÓTIMO!… (diriam os membros da Casa Civil e do Ministério da “Justica” do atual governo)… NA ATUAL CONJUNTURA, SE TOMASSEM OS QUARTÉIS SAIRÍAMOS NO LUCRO!… PIOR É SE ELES RESOLVEREM SEGUIR NOSSO EXEMPLO DO PASSADO E SE REBELASSEM CONTRA O NOSSA MAMATA… Oops!…Digo: NOSSO GOVERNO DEMOCRÁTICO… CHAMEM JÁ O NOSSO MINISTRO ZÉ CARDOSO… CHAMEM O AMORIM DO MD... CHAMEM A ROSÁRIO DO DIREITO DOS MANOS... PRECISAMOS DAR UMA REPRIMENDA NESSES MILICOS ATREVIDOS… ONDE JÁ SE VIU!

    … ENTÃO, AFINAL:
    POR ONDE ANDA NOSSA DEMOCRACIA?!?…
    QUEM SÃO OS DITADORES?!?…
    QUEM SÃO OS POTENCIAIS TERRORISTAS HOMICIDAS?!?…

    TÁ A CADA DIA MAIS DIFICIL DE ENGULIR!

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  7. Mais um estudo ao nosso lado. Repassem.

    http://www.ssp.rs.gov.br/?model=conteudo&menu=86&id=16777

    http://www.ssp.rs.gov.br/upload/20120319112308estudo_tecnico_n__04___homicidios_no_rs_2011_editado_14.02.12.pdf

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  8. Muito bom esse estudo! Obrigado pelo link, conhecimento muito bem compartilhado!

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