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domingo, 21 de abril de 2013

Rastreamento de armas no Brasil - a grande falácia.

"As armas que abastecem os criminosos um dia foram vendidas em lojas". É  nessa afirmação que a retórica desarmamentista no Brasil tem um dos seus maiores pilares, tentando transferir ao cidadão que compra uma arma para se defender a responsabilidade pela ação armada de um criminoso, partindo da premissa de que aquela arma um dia será roubada ou furtada.
 
Apesar de absurda em sua própria essência, ao certificar ao cidadão que o Estado não pode protegê-lo de roubos e furtos, a afirmação é sustentada veementemente pelos contrários à posse de armas, que buscam recorrer a supostas estatísticas para tentar confirmar o que dizem. Não raro, até mesmo autoridades policiais reproduzem esse discurso, quase sempre concluindo que, se uma arma apreendida é de uso permitido, ela um dia foi vendida em loja.
 
As estatísticas em que se embasam costumam ser de impossível verificação. Quase sempre aludem a dados coletados pelos próprios defensores da ideia de desarmamento, e nunca àqueles oficiais. Um bom exemplo disso se encontra em um "levantamento" muito alardeado por uma organização não governamental com sede no Rio de Janeiro, que apontaria a origem no comércio legalizado de cerca de 60% do armamento apreendido com bandidos, percentual fruto do rastreamento de 10 mil armas no estado, dentre as apreendidas durante uma década. Apesar de não serem números com nenhuma chancela oficial, sua divulgação impacta os menos familiarizados com o assunto.

O problema é que o dito levantamento é capcioso, verdadeiramente maquiado, abrigando uma conclusão a que jamais se poderia chegar caso nele empregados critérios estatísticos sérios.

No período em que as 10 mil armas rastreadas foram apreendidas, o total de apreensões somou, aproximadamente, 105 mil. Até aí, sob o ponto de vista estatístico, não haveria maiores comprometimentos ao levantamento aqui comentado, eis que a amostra pesquisada corresponderia a quase 10% do total de apreensões. Ocorre que essa amostra estatística não é aleatória, como impõem os levantamentos técnicos dessa natureza, mas, ao contrário, é previamente selecionada, visando aumentar - e muito - a tendência de resultado desejada.

Isso porque, das cerca de 105 mil armas apreendidas nos dez anos abrangidos pela pesquisa, somente foi investigada a origem daquelas rastreáveis, ou seja, daquelas cuja origem poderia ser determinada em bancos de dados oficiais. Todas as demais - as com numeração de série adulterada, as já sem essa numeração, as de fabricação caseira, as oriundas de países que não adotam identificação, dentre outras - simplesmente foram desprezadas.

Assim, a pesquisa apresenta um dado que se caracteriza como de dupla seleção (ou filtro), ou seja, primeiro se reduz a amostragem para um universo específico, não mais aleatório (o das armas rastreáveis) e, então, somente nele se realiza o levantamento. Seria como alguém pesquisar os carros de origem brasileira circulando na Bolívia apenas pelas placas, considerando unicamente os que mantiveram as daqui.

Circunstância interessante nesse contexto é o fato de que a, digamos, "imprecisão" do levantamento não é sequer disfarçada. Em um tendenciosíssimo documentário antiarmas produzido pelo Canal Futura, ao demonstrar a metodologia da pesquisa, uma delegada do Rio de Janeiro afirma categoricamente: "o número de série é essencial, se não houver número de série a gente interrompe o rastreamento, não consegue obter resultado" (veja o vídeo abaixo).

Se apenas as armas com número de série são rastreadas, qualquer dado estatístico sério sobre esse assunto precisaria, antes de qualquer coisa, divulgar quantas delas têm essa característica no total de apreensões. Do contrário, levantamentos dessa natureza não resistem sequer a um questionamento brando, com o que os "números mágicos"  perdem o encanto e descambam para o charlatanismo. Só é preciso que mais gente, antes de acreditar em tudo que vê e ouve, pare para questionar.



* Leia mais: "Sem elucidação de homicídios é impossível afirmar a origem do armamento utilizado"

4 comentários:

  1. Outro aspecto importante:

    Se raspar a numeração de uma arma tem como objetivo esconder a origem da arma, apagando a identidade de seu proprietário original, então é de se imaginar que nenhuma arma roubada de um cidadão comum terá sua numeração raspada. Ou será que se imagina que um ladrão estaria preocupado em proteger a identidade do infeliz que teve sua arma roubada?

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  2. Claro, até porque os fuzis, metralhadoras e armas de guerra dos traficantes, e os explosivos dos ladrões de banco, foram comprados ali na esquina...Hahahahaha, então agora vamos proibir o uso de isqueiros, fósforos, álcool, gasolina e afins...quem sabe também facas de cozinha...bando de hipócritas.

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    1. Penso da mesma forma: uma 9mm não se compra na casa de artigos para caça. Nem a munição.

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  3. Como a esmagadora maioria das armas apreendidas é de fabricação nacional a Taurus poderia se voluntariar para rastrear as armas com numeração que não estejam nos bancos da DPF e Exército, por exemplo.
    Infelizmente parece que não há vontade da indústria em realizar um diagnóstico deste problema.

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