ARTIGOS, NOTÍCIAS E REPERCUSSÕES SOBRE SEGURANÇA PÚBLICA.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Pesquisa incompreensível


O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA divulgou ontem uma pesquisa que aponta a queda da venda de armas de fogo no Brasil nos últimos seis anos, atribuindo o fenômeno ao estatuto do desarmamento. Segundo o estudo, entre 2003 e 2009, as despesas das famílias brasileiras com a compra de armas de fogo caiu cerca de 40%, tendência somente não verificada na Região Sul do país.

Durante a apresentação do estudo, foram enaltecidos os supostos efeitos positivos da redução da venda de armas, em quadro dividido por microrregiões, com alusão à possível redução das taxas de homicídio naquelas menos armadas, tese defendida por uma organização não governamental sediada no Rio de Janeiro e que também participou da pesquisa.

Contudo, consultados sobre os dados divulgados, especialistas no assunto questionam as conclusões da pesquisa e a metodologia nela empregada. 

Para o pesquisador em segurança pública Fabricio Rebelo, os dados e o objetivo da pesquisa seriam incompreensíveis. "Não é necessária nenhuma pesquisa para se concluir que a venda de armas de fogo despencou no Brasil nos últimos anos, fato já há muito comemorado pelas entidades desarmamentistas. Contudo, estranha-se a ausência de correlação entre esse dado e as conclusões do Mapa da Violência 2013, que aponta, no mesmo período, o crescimento dos homicídios com arma de fogo, o que deveria ser o foco principal de um estudo assim", afirma. Segundo o pesquisador, "não há nenhuma serventia para uma pesquisa nestes termos, pois é a mera constatação do óbvio, sem investigação sobre suas consequências".

Outro ponto de questionamento seria a fonte dos dados utilizados. "Se a venda de armas de fogo é rigorosamente controlada pela Polícia Federal, onde precisam ser registradas, qual a razão para não se utilizar esses dados, valendo-se, ao contrário, de informações prestadas pela população ao IBGE quanto aos gastos familiares?", indaga Rebelo.

Já para Bene Barbosa, presidente da ONG Movimento Viva Brasil, chama a atenção a divergência entre os dados da pesquisa e sua apresentação ao público. "Durante sua divulgação, afirmou-se que regiões mais desarmadas teriam taxas de homicídio menores, mas isso, além de contrariar os dados oficiais de registro de armas e de taxas de homicídio, não consta do estudo que foi divulgado pelo IPEA e se encontra disponível em seu site oficial. De onde, então, vieram tais números?", questiona.

Barbosa também põe em dúvida o quantitativo de armas pesquisado. "Como os dados da pesquisa divergem dos registros oficiais da Polícia Federal, há de se presumir que está sendo considerada a aquisição ilegal de armas de fogo, sobre o que, por óbvio, não se tem nenhum dado confiável, até porque não seria nem lógico admitir que alguém declarasse ao IBGE ter destinado parte de sua renda à aquisição de uma arma ilegal", pondera.

O especialista ainda estranha o fato de a pesquisa incluir indivíduos com menos de 25 e até crianças de 10 anos em seus dados, afirmando que "desde 2003, início dos dados apresentados, somente maiores de 25 anos podem adquirir arma de fogo legalmente, o que torna sem nenhum sentido uma pesquisa que inclua até crianças como adquirentes desses instrumentos. Se alguém com menos de 25 anos adquire uma arma, o está fazendo ilegalmente e, sobre o comércio ilegal de armas de fogo, como disse, o Brasil não dispõe de dados nem minimamente merecedores de crédito", finaliza.

O estudo do IPEA, denominado Impactos do Estatuto do Desarmamento sobre a Demanda Pessoal de Armas de Fogo, está disponível do sítio eletrônico oficial da entidade, ainda que sem os dados referentes à variação das taxas de homicídio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário