A
recente divulgação de um estudo sobre a origem das armas apreendidas com os
criminosos vem causando polêmica entre especialistas do setor, ao apontar que a
maioria delas teria origem lícita, sendo posteriormente desviada para a
ilegalidade. O debate gira em torno da confiabilidade dos dados divulgados,
principalmente quanto ao método utilizado para sua apuração.
O
pesquisador em segurança pública da ONG Movimento Viva Brasil, Fabricio Rebelo,
é um dos que vê com desconfiança as conclusões do estudo. “O grande problema
é que o rastreamento de armas no Brasil é falho, pois se baseia exclusivamente
na numeração de série das armas apreendidas. Assim, quando a arma não tem
numeração ou ela é raspada, simplesmente não há rastreamento nenhum, e estas
são a absoluta maioria dentre as apreensões. Quando se tenta estabelecer a
origem do armamento por esse sistema, já se despreza a maior parte das armas, pesquisando-se apenas as 'rastreáveis', o
que resulta em dados muito distantes da realidade”, explica o pesquisador.
Outro
grave erro, segundo Rebelo, é acreditar que todas as armas de fabricação
nacional apreendidas tenham sido colocadas em circulação no mercado interno. “O
Brasil é hoje um dos maiores exportadores de armas leves do mundo, e muito do
que é exportado retorna ao país como contrabando, indo abastecer os criminosos.
Por isso, identificar apenas marca da arma não significa descobrir de onde ela
veio”, esclarece.
Mesmo
apontando falhas na metodologia utilizada para rastreamento, Rebelo não
acredita que investimentos nesta área reduzam a criminalidade, devendo-se
priorizar a investigação da autoria dos crimes. “Descobrir de onde veio uma
arma é secundário na dinâmica da segurança pública, o importante é descobrir
quem a usa para cometer crimes e aplicar rígida punição. Armas não saem por aí
atirando sozinhas, não podendo ser consideradas as vilãs da sociedade,
qualificação que cabe a quem puxa o gatilho, ao bandido. Direcionar as ações de
segurança pública para descobrir a origem das armas é como traçar políticas de
trânsito com base em quem vende o carro, e não em quem o conduz”, finaliza
o pesquisador.
No
Brasil, somente é autorizado o comércio de armas curtas nos calibres até .38,
para revólveres, e .380, para pistolas. Calibres de maior potência, como o .40,
o .45 e o 9mm, somente podem ser utilizados por militares, forças de segurança
pública e, quanto aos primeiros, algumas categorias especiais, a exemplo de
juízes e promotores de justiça.
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Veiculação: Online
Reprodução: Autorizada
Condição: Na íntegra
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