Nos últimos
seis dias, pelo menos três edifícios residenciais da capital baiana foram alvo
da ação de bandidos. Desde o início do ano, mais de uma dezena de ataques já
foram registrados. Em comum, a facilidade de acesso dos bandidos aos
condomínios, sua ousadia, agressividade e absoluto destemor.
Embora não
seja uma modalidade de crime nova, principalmente em outros estados
brasileiros, as ocorrências assustam a população de Salvador, onde registros
assim costumavam ser raros. A sensação de insegurança é potencializada pela
ausência de ações efetivas para evitar a investida dos criminosos. Ao
contrário, sem pistas dos assaltantes, os órgãos de segurança pedem ajuda às
próprias vítimas e testemunhas para tentar identificá-los, em especial pelas
imagens de circuitos internos de filmagem.
Para o
pesquisador em segurança pública Fabricio Rebelo, que coordena a ONG Movimento
Viva Brasil na região Nordeste do país, o crescimento dessa modalidade de crime
está diretamente associado à facilidade e ao baixo risco das investidas. “Não
há como negar que a violência criminal vem crescendo significativamente no
estado em todas as suas formas, mas em alguns segmentos ele é mais sentido,
como é o caso dos ataques às vítimas nos locais em que deveriam estar seguras,
mas que se mostram igualmente indefesas”, afirma.
De acordo com
Rebelo, são raros os edifícios que mantêm controles eficazes sobre o acesso de
visitantes, principalmente quando há ameaça armada. “Com a população civil
desarmada, por força das insistentes e temerárias políticas de desarmamento, o
obstáculo dos criminosos se resume ao ingresso nos condomínios, a partir de
quando não temem mais qualquer tipo de reação. Uma vez dominado o porteiro ou
algum morador, a ação passa a ser fácil, apresentando baixo risco para os
marginais, que estão descobrindo isso a cada dia”, é o que alega.
O pesquisador
acredita que, caso os criminosos temessem algum tipo de reação das vítimas,
ações assim seriam muito mais raras e necessitariam de uma estruturação maior
das quadrilhas, o que é diferente da realidade de hoje. “Sem risco de
reação, qualquer criminoso com uma arma se vê capaz de dominar um edifício
inteiro. Antes, quando um crime assim ocorria, o que se apurava era um prévio
planejamento criterioso, com a escolha de prédios com pouco movimento e, de
preferência, um único apartamento por andar, tudo para evitar o risco de alguém
surpreender os bandidos e reagir. Hoje, porém, basta uma dupla e um revólver
velho para invadir um prédio de mais de quarenta apartamentos”, acrescenta.
Rebelo
compara o Brasil com outros países, afirmando que “o crescimento dessa
modalidade de crime é absolutamente comum em todos os países que implementaram
políticas de restrição à posse de armas para o cidadão se defender”. Contudo,
o pesquisador adverte que não incentiva a reação. “Defender o acesso do
cidadão às armas não se confunde com incentivar reações em assaltos, o que deve
decorrer de um julgamento estritamente pessoal, de acordo com as circunstâncias
do caso, e pode funcionar ou não. O que é fundamental, no contexto da segurança
pública, é não dar a certeza aos bandidos de que a reação é impossível, pois,
isso sim, é um grande incentivo à multiplicação de ataques”, finaliza.
Na tarde
dessa terça-feira, delegados de algumas circunscrições policiais da capital
baiana se reuniram para traçar metas de combate aos arrastões em edifícios
residenciais, mas ainda não foram divulgadas medidas efetivas neste sentido.
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